quinta-feira, 19 de julho de 2007

Viagens à tasca

Dado o tempo e atenção dispendido com «Our Love To Admire», julguei por bem fazer um coffee brake e relatar os restantes pormenores da minha última visita à tasca num segundo episódio do capítulo 3 desta saga.

Além dos Interpol, a última «bebedeira» teve os aromas de Josh Rouse, Animal Collective e Gossip. Se Josh Rouse, um habitué por estas paragens desde a edição do soberbo «1972» em 2003, apresenta o mais recente «Country Mouse City House»; os Animal Collective (a prepararem o lançamento do novo «Strawberry Jam») surgem com o aclamado «Feels»; e o colectivo The Gossip, após a impulsiva passagem pelo SBSR, reeditam o álbum de 2005 «Standing in The Way Of Control».
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Josh Rouse é na actualidade, e a par da canadiana Feist, uma das vozes mais sexys da pop. Natural do Nebraska, Rouse editou o primeiro álbum («Dressed Up Like Nebraska») em 1998 e desde então tem atraído a atenção de críticos e público em geral. O início da sua carreira discográfica indiciava uma direcção mais alternative-country; a colaboração com Kurt Wagner dos Lambchop no EP «Chester» de 1999 é um bom exemplo disso. Contudo, e com a edição de «Home», em 2000, Rouse foi alvo de um forte assédio por parte de realizadores cinematográficos e produtores televisivos. Directa ou indirectamente, Josh Rouse compõe de uma assentada as 2 obras máximas da sua já considerável carreira: «Under Cold Blue Stars» de 2002 e o conceptual «1972» em 2003. Se no início a folk era o goal a atingir, agora a pop açucarada e imprópria para hiperglicémicos sobrepunha-se à folk. Antes do novo «Country Mouse City House», Josh Rouse lançou ainda, e em nome próprio, «The Smooth Sounds Of Josh Rouse» (registo em DVD de uma actuação ao vivo em Nashville e CD com lados b), «Nashville» e «Subtítulo». Este último totalmente composto e gravado em Espanha, onde Josh reside actualmente. Tratando-se de exercícios menores, tal como este «Country Mouse City House», Josh Rouse consegue sempre captar a nossa atenção, pois a sua voz é familiar, o som é afectuoso e as estórias que documenta acabam por soar a contos infantis. Os «la la la la la la la» voltam a marcar presença («Sweetie»), a pop suave e característica de outras épocas está cá («Italian Dry Ice»), a paródia musicada também («Hollywood Bass Player») e a sedutora e lânguida voz volta a marcar pontos («Snowy»). Todavia, «Country Mouse City House» acaba por parecer mais uma agradável viagem entre Nebraska e o sul de Espanha em piloto automático.
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No que toca aos norte-americanos Gossip é impossível dissociar a recente exposição do colectivo do carisma «anti-herói» de Beth Ditto. Se dúvidas existiam sobre a pujança e qualidade enquanto performer de Ditto, essas dissiparam-se com a recente actuação da banda no SBSR. Os temas, por vezes excessivamente simples, são capazes de «agradar a gregos e a troianos». A voz soul, de uma Janis Joplin mais doce, é sem dúvida um dos pontos altos deste trio norte-americano e temas como «Standing In The Way Of Control», «Yr Mangled Heart», «Listen Up!», «Jealous Girls» e «Dark Lines» são razões para lhes darmos uma atenção adicional.
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Chegamos aos Animal Collective e a coisa complica. E ainda bem que assim é. «Feels» foi aclamado e nomeado por meio mundo como uma obra-prima. Confesso que a unanimidade envolta na banda e no disco dissipou o interesse inicial em dar o primeiro passo na descoberta do mundo Animal Collective. É claro que o Youtube foi dando umas luzes, mas na última viagem à tasca tropecei, uma vez mais, no vicío e não resisti ao apelo de Avey Tare, Panda Bear, Deakin e Geologist. Vai desta e «Feels» também foi parar ao fundo do cesto de compras. Como o próprio título sugere, «Feels» é cheio de sentimentos, de vida, de alegria, de liberdade, de afecto e carinho. Avey Tare (David Portner) é o perfeito narrador de(stas) fábulas. A forma teatralizada e cuidada com que são relatadas dão-lhes uma dimensão «bigger than life» e a aparente simplicidade difunde um sentimento singular. Como Avey Tare nos sussurra ao ouvido em «Did You See The Words», «there’s something living in these lines» (…) «There’s something starting don’t know why»…

1 comentário:

João disse...

Fantástico o teu blog. Continua as boas escritas e considera-te alinhado. Abraço!