sábado, 6 de outubro de 2007

2007 | Viagens à tasca em período de férias VI

Por entre as visitas a museus, monumentos e locais de interesse de Zürich, lá damos de caras com uma nova tasca. A segunda paragem deste autêntico «raide às tascas» em Zürich foi um tentáculo da rede de lojas Jecklin. Mais uma agradável surpresa. A oferta destacou-se pela quantidade e qualidade. Como não podíamos trazer a loja, lá optámos pelos disquinhos que mais brilharam aos meus olhos, as estreias de Martha Wainwright e dos The Shins.
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Limat - Zürich
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A família Wainwright é cada vez mais um caso a seguir de perto. Não bastasse o pai de família ser Loudon Wainwright III e a mãe Kate McGarrigle, que com a tia Anna formam o duo Kate & Anna McGarrigle, os frutos desta relação são dois dos maiores ícones da pop clássica actual. Se Rufus Wainwright dispensa quaisquer apresentações, a irmã mais nova Martha Wainwright, apesar das muitas colaborações em álbuns dos restantes membros da família Wainwright e de artistas como Gordon Gano (dos Violent Femmes), Teddy Thompson e Snow Patrol, só em 2005 editou o seu LP.
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É certo que esporadicamente e desde 1999 que Martha grava e edita EPs (sobre os quais falaremos mais à frente), mas o reconhecimento e a glória surgiu com o debut homónimo. Martha deixou de se camuflar atrás de outros nomes e, sem medos, gravou uma das mais doces e elegantes colecções de temas pop. Se quota-parte da admiração que parece existir por Rufus se baseia no timbre de voz, a irmã não lhe fica nada atrás. Temas como «Far Away», «Factory», «Don’t Forget», «This Life», «When The Day Is Short», «Bloody Mother Fucking Asshole», «Who Was I Kidding?», «Whither Must I Wander» e «The Maker» (com a participação especial de Rufus) destacam-se pela interpretação de Martha. Porém, o fascínio por este «Martha Wainwright» não se cinge aos atributos vocais e interpretativos de Martha. Cada tema é singular, uma visão deliciosa dos vários mundos em que Martha se move. São pedaços celestiais, grandiloquentes. A cada instante sentimo-nos mais envolvidos pela voz e sensibilidade de Martha Wainwright. No fim fica um cansaço voluptuoso de uma longa noite de amor… Embora possa parecer estranho, o irmão Rufus, que nos visitará no próximo dia 6 de Novembro, não conseguiu seduzir tanto na sua estreia discográfica.

Como bónus, tivemos a sorte de encontrar a edição especial de «Martha Wainwright» e com isto temos direito a mais três canções, temas incluídos previamente em EPs, onde se destacam «Bring Back My Heart», que conta com a ajuda de Rufus, e a lindíssima e desconcertante versão de «Dis, Quand Reviendras-Tu?», de Barbara. Não bastasse estarmos de férias e numa cidade encantadora, Martha Wainwright entrou em cena e revigorou o espírito e a alma.
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A segunda aposta, também um verdadeiro achado para a realidade tasqueira portuguesa, recaiu sobre a estreia discográfica dos norte-americanos The Shins. «Oh, Inverted World» é o início de mais uma viciante história de admiração. Por aqui tudo começou com Natalie Portman, em «Garden State», a afirmar que os The Shins são capazes de mudar as nossas vidas. «New Slang» era o mote para a confissão. Na tela, o rapaz após conhecer a rapariga tentava arranjar assunto para conversa e a “pequena”, um pouco envergonhada de início, refugiava-se nas doces melodias dos The Shins para não ceder aos encantos de Zach Braff. É este o ponto exacto onde os The Shins fazem a diferença e nos podem virar a vida do avesso: as melodias e consequentes construções pop. As influências são mais que muitas e vão desde os The Beach Boys aos Gorky’s Zygotic Mynci, dos The Cure aos Love, dos The Magnetic Fields aos Neutral Milk Hotel, dos The Byrds a Elliott Smith, ou mesmo dos Belle & Sebastian aos Echo & The Bunnymen. Porém, influências à parte, centremo-nos na música dos The Shins que vale por si só. «New Slang» é um autêntico toucinho-do-céu (claro que aqui a sobremesa escolhida depende sempre dos gostos de cada um). «Caring Is Creepy», um dos temas mais psicadélicos do álbum, junta os The Cure da sua fase mais harmoniosa aos The Beach Boys e o festim freak (leia-se indie) é garantido. «One By One All Day» mantém o estado alucinogénico e à segunda faixa o ouvinte capitula perante as substâncias traficadas. «Weird Divide» dá um ar mais tranquilo, mas mesmo assim telúrico a «Oh, Inverted World» e «Know Your Onion!» volta a recuperar os sons da década de 60, com os teclados à The Doors a marcarem presença. «Girl Inform Me», «The Celibate Life», «Girl On The Wing» e «Pressed In A Book» mantêm os espírito 60’s e a sedução é permanente. Destaque ainda para «Your Algebra» que recupera os devaneios Pink Floyd, na fase Syd Barret, e «The Past And Pending» que fecha «Oh, Inverted World» em espírito The Beatles.
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Se Martha Wainwright veio revitalizar a alma e espírito, os The Shins, com este «Oh, Inverted World», preencheram um vazio que existia na colecção de discos lá de casa, completando a discografia destes norte-americanos.
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Como aperitivo desta última e mais proveitosa colheita durante as férias de 2007 deixo «Factory», uma das pérolas incluídas em «Martha Wainwright».
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2 comentários:

bitsounds disse...

excelente álbum da Martha Wainwright, apesar de ter passado um pouco ao lado de muita gente em nada fica a dever ao mano .... vamos esperar por novo disco.

Jorge Oppenheim disse...

Natalie portman, sim casava-me.