sexta-feira, 11 de junho de 2010

2010 | Viagens à tasca em período de férias III

Plaza Mayor (Madrid)

Tiram-se dois dias de férias, faz-se uma curta viagem de cinquenta minutos num voo «low-cost» e passamos quatro dias em Madrid para descansar a mente e estafar o corpo. Foi a minha segunda passagem por Madrid, mas a primeira que se prolongou por mais de um dia. A impressão foi boa. Gostei da animação de «nuestros hermanos» e, mais uma vez, fiquei com a sensação que o nosso Portugal continua a ser muito provinciano. Ora vejamos, numa cidade com cerca de 3.232.463 habitantes (dados de 2007 do Instituto Nacional de Estatística) será possível eu ter encontrado um único centro comercial? Na óptica do Portuguesinho talvez não, mas numa perspectiva moderna faz todo o sentido. Em Madrid, e na maioria das restantes cidades europeias, as pessoas vivem no centro da cidade e dão vida às «calles». O comércio faz-se na rua e é na rua que as pessoas andam e fazem as suas vidas. Existem parques naturais (parques dos verdadeiros e não amostras como é o Jardim da Estrela ou matas inóspitas para as quais ninguém se atreve a ir, como é o Monsanto). E existem lojas de discos capazes de sobreviver e fazer concorrência às FNACs e aos El Corte Inglés locais. É claro que a maioria dos discos que importei de Madrid têm o selo da FNAC, mas as «tiendas» de discos «madrillenas» são uma mais valia da cidade. Quanto aos preços, são muito idênticos aos que se praticam em Lisboa, mas os títulos que surgem nas secções de promoções são mais variados e aliciantes.
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Inicío esta minha viagem ao som da dupla Russian Red e do respectivo debut álbum «I Love Your Glasses», de 2008. A história do projecto nasce quando a madrilena Lourdes Hernandéz conhece o britânico Brian Hunt. As composições de Lourdes despertaram a atenção do produtor Fernando Vacas e daí até à edição de «I Love Your Glasses» foi um pequeno passo. O trabalho foi muito bem recebido e os elogios foram muitos. O projecto foi eleito como a grande revelação do ano pelo jornal El País e a singer-songwriter Lourdes foi apelidada de «Feist Espanhola». Sou da opinião que Lourdes se assemelha mais a uma Kate Bush, pelo timbre de voz, e a uma Martha Wainwright, pela forma emotiva como interpreta os seus temas. No entanto, Russian Red é mais que isso. Música Folk e atitude indie que muito proveito me tem oferecido. Folk que não esquece os cânones de uma Joni Mitchell e/ou Lucindia Williams, mas que podia ser incluída num qualquer trabalho de Bill Callahan, Joanna Newsom, Bonnie ‘Prince’ Billy, Devendra Banhart, Gillian Welch, Laura Marling... São, portanto, canções que se revelam familiares e às quais não consegui resistir. Canções como «Cigarettes», «No Past Land», «Gone, Play On», «Nice Thick Feathers», «They Don't Believe», «Time Is Crucial» e, cereja em cima do bolo, uma intima e lânguida versão do clássico «Girls Just Want To Have Fun» irão acompanhar-me durante os próximos tempos.
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Outro dos discos adquiridos em Madrid foi o muito aguardado álbum de estreia dos norte-americanos The Drums. Quarteto de Brooklyn que com a edição do EP «Summertime!» (2009) conseguiu despertar as atenções e criar um hype em torno da banda e do revivalismo «guitar pop». A receita para este «The Drums» continua a passar pelo casamento entre a surf pop de uns The Beach Boys, a new wave de uns The Cure e New Order e o brit indie rock de uns The Smiths e Orange Juice. Condimentos perfeitos que alimentaram em muito as expectativas em torno do álbum agora apresentado. A imprensa especializada é unânime em afirmar que os The Drums cumpriram e ofereceram-nos mais uma extraordinária colecção de canções pop estival. É um facto. «The Drums» é uma irresistível colecção de canções pop. Ouçam-se, por exemplo, «Me And The Moon», «Skippin’ Town», «I’ll Never Drop My Sword», «Forever And Ever Amen», «Let’s Go Surfing» e «Down By The Water» (estes dois últimos temas repescados de «Summertime!»). No entanto, há um ligeiro sentimento de enfado que se vai criando à medida que os temas se sucedem. A determinada altura tudo soa a cópia de cópia e fico sem perceber se ouço «Forever And Ever Amen», ou «Best Friend»; «Me And The Moon», ou «I Need Fun In My Life»; «Book Of Stories», ou «It Will All End In Tears». Aviso à navegação: as canções são muito boas e o álbum não desilude. Porém, nem sempre o todo é igual à soma das partes…
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E agora um daqueles discos que, apesar de não conhecermos a música que o compõe, decidimos levá-lo para casa por tanto falarem nele. O duo Japandroids, composto por Brian King (guitarra e voz) e David Prowse (bateria e voz), formou-se em 2006, na cidade de Vancouver. A sonoridade da banda é um misto de garage rock, noise pop e lo-fi indie rock que tão bons resultados obteve com os parceiros da distorção No Age, Wavves e HEALTH. No entanto, «Post-Nothing», o álbum de estreia dos Japandroids (2009), tem a seu favor o facto de transpirar o frenético stoner punk rock dos saudosos Death From Above 1979. Urgência sonora que também podemos relacionar com alguns dos momentos mais acelerados dos …And You Will Know Us By The Trail Of Dead (ouçam-se a rápida e eficaz percussão de «The Boys Are Leaving Town» ou o sónico «Young Hearts Spark Fire»). Mas este é um disco mais cru e áspero. Um trabalho despretensioso e cheio de energia que me fez regressar aos findos anos 90 e ver que afinal é bom ter 15 anos e viver com o sangue na guelra («we used to dream / now we worry about dying / i don’t want to worry about dying»).
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Para terminar esta primeira passagem pelo meu fim-de-semana madrileno, deixo em airplay «I Quit Girls» dos Japandroids («she wears white six days a week / she was just one of those girls / and if you’re lucky on the seventh day she’ll wear nothing / she was just one of those girls / after her I quit girls»).

1 comentário:

Anónimo disse...

Sim Senhor,
sempre a viajar pelo mundo fora,,,,