segunda-feira, 15 de agosto de 2011

2011 | Viagens à tasca em período de férias V


Brandenburger Tor

Uma das bandas que até há bem pouco tempo passava completamente despercebida nas tascas de Lisboa são os norte-americanos The Black Keys. O duo, composto por Dan Auerbach (guitarra e voz) e Patrick Carbey (bateria e produção), fez os seus primeiros ensaios em Akron, Ohio, decorria o ano de 2001. Em 2002, editam o álbum de estreia «The Big Come Up» e as comparações com os The White Stripes são inevitáveis. Electric power blues com tempero garage rock que muito deu que falar na passagem dos anos 90 para os anos 00. Uma guitarra, uma bateria e uma voz poderosa e visceral. Género que não pegou em Portugal, mas que eu sempre acompanhei com os citados The White Stripes e, numa variante mais pop, com os The Strokes, The Kills e Yeah Yeah Yeahs. Os The Black Keys são uma descoberta relativamente recente. Se no ano passado Madrid me proporcionou «Attack & Release» e «Brothers», este ano Berlim ofereceu-me «Thickfreakness» (2003). Trabalho gravado e produzido pela própria banda em cerca de catorze horas. Um disco composto por onze canções urgentes e de textura blues-rock. Tudo apresentado de uma forma rude, mas extremamente eficaz. «Thickfreakness», «Hard Row», «Set You Free» e «Have Love Will Travel» são excelentes canções, dignas de figurarem num qualquer best of da dupla. Já «Hurt Like Mine» e «If You See Me» expõem a faceta mais controlada e, consequentemente, menos excitante dos The Black Keys. No entanto, o que impressiona é o facto de dois músicos com pouco mais de vinte anos (recorde-se que «Thickfreakness» foi editado em 2003) conseguirem escrever e produzir música tão “crescida”. Canções calejadas que encontram em Dan Auerbach o seu narrador de eleição.

A par dos The Black Keys, os norte-americanos Death Cab For Cutie (DCFC) também não têm a vida facilitada por cá. Os discos da banda de Bellingham, Washington, são difíceis de encontrar. A procura de Berlim reservou-me a edição limitada e comemorativa dos dez anos de «Something About Airplanes» (1998). Uma década de pop seminal e tempero lo-fi de «Bend To Squares», «Champagne From A Paper Cup» e «Line Of Best Fit». Canções que misturam a pop beatlish de Elliott Smith e Ben Folds, com arranjos John Vanderslice. Ambientes explorados pelos Built To Spill, The Shins e Rogue Wave, mas com a carga emocional de uns Red House Painters («Your Bruise») e Mazzy Star («Sleep Spent»). A receita saiu-se bem em 1998 e o percurso da banda de Ben Gibbard (The Postal Service e ¡All-Time Quarterback!) é hoje um dos casos de maior sucesso indie norte-americano. Aproveitando a boleia do êxito alcançado, principalmente, com «Transatlanticism» (2003), «Plans» (2005) e «Narrow Stairs» (2008), os DCFC lá se decidiram a reeditar «Something About Airplanes». A ideia seria mostrar aos novos fãs as canções que deram início à viagem da banda. Para o efeito juntaram-lhe um segundo CD com a primeira actuação dos DCFC em Seattle, no Crocodile Cafe, a 25 de Fevereiro de 1998. Uma verdadeira relíquia para quem estima a música dos DCFC.

Outra banda com dificuldades de colocar os seus trabalhos nas tascas de Lisboa são os Okkervil River. A minha relação com o colectivo de Austin, Texas, nasceu em 2007 com a edição do soberbo «The Stage Names». Em Berlim encontrei «Down the River of Golden Dreams» (2003) e «I Am Very Far» (2011), o segundo e sexto álbuns dos norte-americanos. Folk rock com cadência retro que pisca o olho à pop, sem perder a personalidade indie. Modelo cultivado pelos Neutral Milk Hotel, mas acompanhado de perto pelo lirismo de um Conor Oberst (Bright Eyes) e Stephin Merritt (The Magnetic Fields). Storytelling de primeira linha, portanto, que domina o extraordinário «Down the River of Golden Dreams». Dados aos quais Will Sheff e companhia acrescentam, no mais recente «I Am Very Far», pitadas de Bruce SpringsteenRider»), Mercury RevWe Need A Myth») e Arcade FireWhite Shadow Waltz»).
Empenham-se na cadência waltz de «Wake And Be Fine» e mostram que a pop pode ser um lugar comum para todas as suas influências («Piratess»). Músicas triunfantes, às quais adiciono «The Valley», «Hanging From A Hit», «Show Yourself» e «Your Past Life As A Blast», que constroem um álbum, igualmente, glorioso. Mais um dos Okkervil River.

Quem também não faz nada ao acaso são os …And You Will Know Us By The Trail Of Dead (só o nome já os denunciam), banda oriunda, também, de Austin, no Texas. Formaram-se em 1993 e até à data já nos ofereceram dois dos melhores álbuns dos últimos doze anos: «Madonna» (1999) e «Source Tags & Codes» (2002). Ainda assim, a carreira dos …AYWKUBTTOD tem-se pautado pela irregularidade: «Worlds Apart» e «So Devided» são verdadeiros tiros ao lado. A apetência da banda para o prog-rock épico com tempero post-punk estava lá, mas o todo simplesmente não resultava. «Tao Of The Dead» é já o sétimo álbum dos norte-americanos e o trabalho mais forte desde o seminal «Source Tags & Codes». Na verdade, «Tao Of The Dead» recupera toda a pujança e esplendor da obra-prima dos …AYWKUBTTOD (os trechos «Fall Of The Empire» e «Summer Of All Dead Souls» são soberbos). Tudo muito bem ordenado, aqui, numa edição dupla e limitada. Se no primeiro CD encontramos as duas faixas do disco - «Tao Of The Dead» (35:50) e «Strange News From Another Planet» (16:32) -, no CD dois podemos ouvir as «stand alone versions» dos onze temas que compõem os quase trinta e seis minutos de «Tao Of The Dead», a faixa título, e mais meia hora de música com «The Bubble Demo» (as versões demo). Uma preciosidade que vem acompanhada de dezasseis páginas da ‘comic’ «Strange News From Another Planet – The Voyages Of The Festival Theme» e da respectiva «short story» da autoria do vocalista e guitarrista Conrad Keely.

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