terça-feira, 7 de agosto de 2012

2012 | Viagens à tasca em período de férias I


Piazza del Duomo, Milano

Chegou a melhor época do ano! Férias, descanso, viagens, novidades, hotéis, museus, sol e shopping… Desta vez o destino foi Milão, com passagens obrigatórias por Verona (Obrigado Gi), Lago Maggiore e Lago di Como. Além do escape, a procura pelo loja de discos mais próxima ofereceu-me alguns souvenirs importantes. Primeiro, e como já vem sendo habitual por estas ocasiões, centro as minhas atenções no formato EP.

«Earth Division», o malfadado disco dos escoceses Mogwai, o qual não passou incólume às London riots de 2011 (recordo que a primeira tiragem do EP foi destruída num incêndio), foi um dos EP adquiridos. Quatro canções, qual delas a mais distante do sonante turbilhão eléctrico Mogwai, que buscam uma visão mais calma e plácida na música do grupo. Portanto, esqueçam os ruidosos riffs e as características ondas sónicas em modo repeat dos Mogwai. «Earth Division» é composto por temas outonais e bucólicos, criados em torno do piano e da viola, do violino e do violoncelo e da harmónica. Canções gravadas nas mesmas sessões de «Hardcore Will Never Die, But You Will» (2011), mas que acabaram excluídas do seu alinhamento final. Leftovers estranhos, quando enquadrados na discografia dos Mogwai, dos quais nos colamos a «Drunk And Crazy», o momento mais electrónico do EP e a canção que realmente merece destaque.


«An Argument With Myself» é o EP de 2011 do sueco Jens Lekman. O senhor já não editava nada desde 2007, ano em que revelou algumas das suas cartas de amor, em «Night Falls Over Kortedala». O EP antecedeu a edição de «I Know What Love Isn’t», o novo álbum de Jens Lekman que chega às lojas já no próximo mês de Setembro, com cinco canções leves e propicias para a época estival, com passagens por África (via Vampire Weekend) e pela América Latina. O singer-songwriter mantém a pose e a atitude de crooner, continua a cantar as histórias do seu dia-a-dia (desta vez até descreve a passagem de Kirsten Dunst por Gotemburgo) e volta a abraçar o romantismo pop dos Belle & Sebastian e de Stephin Merritt (The Magnetic Fields). Entrega-se aos ritmos quentes do tropicalismo e às cadências tribais para criar um verdadeiro baile de festas, numa qualquer instância balnear. Coisa boa e recomendável.


E agora um pouco de yogaGonjasufi, a.k.a. Sumach Ecks, a.k.a. Sumach Valentine, mostrou-se ao mundo (a solo) em 2010, com o extraordinário debut álbum «A Sufi And A Killer». Posteriormente já nos ofereceu o EP «9th Inning» (2011) e no início deste 2012 voltou à carga com «MU.ZZ.LE», um mini álbum composto por dez faixas, algumas em formato canção, e vinte e quatro minutos de música sombria e apetecível. «MU.ZZ.LE» dá, assim, seguimento à demanda de Gonjasufi pela melodia. Para isso recorre, uma vez mais, ao trip-hop de outros tempos e ao copy+paste que resulta num autêntico choque de civilizações (leia-se referências musicais). Portanto, «MU.ZZ.LE» acaba por ser uma continuação de «A Sufi And A Killer». Um mini álbum feito à imagem do álbum que me conquistou pela sua alma de meditação e pela dança do yin e do yang que percorre todas as suas entrelinhas. Uma dualidade de forças presente e sedutora, mas difícil de explicar. Gonjasufi, o rapper, o cantor, o DJ e o professor de yoga, mantém assim intactos os créditos de excelente criador de ambientes e de peças pop.


Para terminar, «Mount Wittenberg Orca». Trabalho que reúne os Dirty Projectors e a islandesa Björk. EP composto por oito canções, todas elas escritas por Dave Longstreth para uma iniciativa de beneficência e inspiradas num passeio de Amber Coffman (vocalista e guitarrista da banda) pela montanha Wittenberg. O resultado é feito por vinte minutos de música fresca e cristalinda. Canções sem qualquer maquilhagem e de espírito ecológico, construídas em torno da voz e de instrumentações simples. Portanto, «Mount Wittenberg Orca» é um disco com matriz Dirty Projectors, mas que se aproxima da fase mais crua e despida da música de Björk («Medúlla», de 2004). Não acrescenta nada à discografia de ambos os universos, mas funciona muito bem para o propósito que viu nascer o projecto. Note-se que todas as receitas deste trabalho conjunto revertem para a National Geographic Society, para a preservação do ecossistema marítimo.

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