sábado, 18 de agosto de 2012

2012 | Viagens à tasca em período de férias V


Varenna, Lago di Como

Para terminar esta temporada de viagens à tasca em período de férias destaco três apostas. As duas primeiras, o mais recente trabalho dos Dirty Projectors e a banda sonora de «The Girl With The Dragoon Tattoo», têm o selo de 2012, e a terceira, o último álbum dos italianos Verdena, trata-se da já habitual proposta local.

Corre na música dos Dirty Projectors, o mesmo entusiasmo inovador que encontramos nos trabalhos de nomes como Animal Collective, The Go! Team, Grizzly Bear ou, mesmo, Shabazz Palaces, THEESatisfaction e tUnE-yArDs. A procura constante em criar melodias pop com as cadências e os elementos mais improváveis. No caso dos norte-americanos Dirty Projectors, mais uma banda a sair de Brooklyn, essa demanda apoia-se muito em texturas The Magnetic Fields, ritmos Fela Kuti, inspiração Robert Wyatt e efervescência Talking Heads. Mas Dave Longstreth, o académico e mentor do grupo, baralha as suas próprias fórmulas art-pop de disco para disco. No anterior «Bitte Orca», por exemplo, o R&B era crivado pela sua filosofia indie rockStillness Is The Move» continua a ser uma excelente canção). Para o mais recente «Swing Lo Magellan», o compositor volta a piscar o olho ao R&B (ouça-se «The Socialites») e às produções mais orquestrais («Dance For You» e «About To Die» são belos momentos), procurando também parcerias no rock alternativo que, centrando as suas atenções em Neil Young e nos The Replacements, fez história nos anos 90. Note-se o portentoso refrão de «Offsprings Are Blank», o tema de abertura, ou a folk(lore) de «Just From Cheveron», do tema título «Swing Lo Magellan» e «Unto Caeser». Mas o melhor de «Swing Lo Magellan» está nas suas melodias e na forma natural com que as complexas composições dos Dirty Projectors se tornam acessíveis. Canções apelativas e de tempero vintage, como são exemplo «Gun Has No Trigger», «Impregnable Question» e «Irresponsible Tune», que constroem mais um excelente álbum destes nova-iorquinos.

Quanto à banda sonora de «The Girl With The Dragoon Tattoo», filme de David Fincher, o disco foi adquirido devido à estrondosa versão de «Immigrant Song» (original dos Lez Zeppelin, aqui interpretado de forma superior por Karen O dos Yeah Yeah Yeahs). O álbum é composto por instrumentais nebulosos e ambiências sinistras. Um trabalho assinado pela dupla Trent Reznor e Atticus Ross, a mesma que em 2010 venceu o óscar com a banda sonora de «The Social Network» (outro filme de David Fincher) e que, com a ajuda de Mariqueen Maandig (a esposa de Trent Reznor) forma os How To Destroy Angels. Projecto que contribui também para «The Girl With The Dragoon Tattoo» com uma luminosa cover de «Is Your Love Strong Enough?», o tema que em 1985 reuniu Bryan Ferry e David Gilmour. Tudo o resto, ou seja, três discos, trinta e nove temas e quase três horas de música, é feito de instrumentais. Temas que expressam muito bem o que se passa no ecrã (noto o frenesim quase doentio de «A Thousand Details» e «Infiltrator» e a perturbante «Parallel Timeline With Alternate Outcome»). Contudo, esta é uma banda sonora com quase 175 minutos para um filme com cerca de 155 minutos. É muita e boa música, mas julgo que podiam ter deixado algumas destas ideias para as sequelas que ainda hão-de vir.

Fecho então esta série de buscas discográficas com a proposta italiana. Foi difícil chegar a um consenso, pois a comunicação com os “especialistas” locais foi má e a audição esteve sempre limitada às fracas apostas do momento dos postos de escuta. No entanto, uma rápida pesquisa no Youtube revelou-me «Razzi Arpia Inferno E Fiamme», o single que em 2011 apresentou «Wow», o duplo álbum dos Verdena. A canção é bem-parecida e as suas vestes indie folk convenceram-me. Quanto à banda, composta pelos irmãos Alberto e Luca Ferrari e Roberta Sammarelli, descobri que se estrearam nos discos em 1999 e em 2008 até andaram em digressão com os norte-americanos MGMT. A sua música vive muito da pop britânica dos Embrace (ouçam-se «Scegli Me (Un Mondo Che Tu Non Vuoi)» e «Sorriso In Spiaggia, Pt. I») e da genica dos Muse Miglioramento», «Sorriso In Spiaggia, Pt. II» e «Rossella Roll Over»). Demonstram, também, afinidades com a grandiosidade U2, o recente rock insípido dos The Smashing PumpkinsMi Coltivo») e alguns ambientes AirAdoratorio»). Apostam no rock mais psicadélico («Badea Blues» e «Loniterp»), mas «Wow» não funciona como disco. Aliás, os duplos álbuns estão cada vez mais em desuso e este «Wow» até podia ser bem melhor se fosse mais curto.

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